“Não
existe isso de uma mãe não amar o filho”
A frase dita por Die determina os objetivos do novo
longa de Xavier Dolan, diretor canadense de inacreditáveis 25 anos. A busca por
uma futuro próximo só nos lembra que pouca coisa vai mudar de fato. Dolan
utiliza somente o que lhe convém para nos apresentar o amor e seus limites: uma
nova lei regulamentada que as mães são capazes de internar seus filhos em
manicômios sem qualquer dificuldade ou empecilho judicial. O resultado de sua
experiência é uma inexplicável jornada de carga emocional que nos desafia a ir
em frente a rumos cada vez mais audaciosos.
O que impressiona à primeira vista é a
uma construção de seus personagens principais Die (Anne Dorval), Kyla (Suzanne Clément) e Steve (Antoine-Olivier Pilon). Mérito
indiscutível aos três atores por suas entregas excepcionais e a Dolan que
consegue dividir democraticamente seus espaços em tela e torna-los igualmente
importantes para o enredo. As suaves transições entre o que parece ser uma
comédia sensível e um drama intenso levam o enredo por caminhos cada vez mais
incertos. Inclusive, um dos maiores aspectos positivos de “Mommy” é definir-se
como uma viagem sem destino aparente. Até sua conclusão, não sabemos se Dolan
apelaria por um drama enxuto onde os personagens são apresentados em conflito e
chegam ao controle por meio de sua evolução, ou se rechearia seus 139 minutos
de crises sem escrúpulos. O que vemos, durante a evolução inestimável de seus
personagens em torno ao próprio enredo é uma montanha-russa de emoções, onde a
o sorriso de canto a canto e a boca trêmula são reações inesperadas e
poderosamente impactantes.
A iluminação levemente amarelada do
filme nos lembra o personagem conflitante do enredo, Steve, como se
precisássemos sentir o sufoco de lidar com seu transtorno. Outro mérito
excitante de “Mommy” é a construção de elementos de suas cenas, quer sejam
visuais ou sonoras. Em uma momento, Kyla e Die se divertem com conversas bobas
e, inesperadamente, Dolan decide filmá-las de um plano exterior, onde escutamos
trovões, vemos relâmpagos e somos quase capazes de sentir a chuva escorrendo
pelas árvores. As mulheres sorridentes em uma sala amarelada ficam de escanteio
como a única fonte de luz viva em meio ao cenário azulado e mórbido que a
tempestade impregna afora. Esse balanço de emoções nos conduz a refletir mais
que os personagens e compreender as divergências narrativas que nos tomam a todo
instante.
Diferente de outros grandes filmes,
“Mommy” afunila pelo inesperado. Ao invés de grandes cenas em sua conclusão,
Dolan decide entregar a seu longa cenas grandiosas do começo ao fim, sempre
sustentado por uma trilha sonora que combina clássicos instrumentais, vocais e
até mesmo astros da contemporaneidade. O resultado é uma mixagem sonora que
conversa perfeitamente com as emoções inesperadas em seus rumos audaciosos.
“Mommy” é um representante do cinema canadense em estado de excelência que sabe
muito bem por onde caminha, não receia ser audacioso e controla com pudor seus
admiráveis elementos. Sem dúvidas, a maior surpresa emocional do ano de 2014 e
indiscutivelmente, um de seus melhores títulos.
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