Entre o Problema e o Compromisso
O drama do diretor londrino Bennett Miller, embora não envolva com facilidade, é satisfatório
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Houve certa revolta por parte de um
público específico, ao ver que Foxcatcher estava fora da lista final dos
indicados ao “maior prêmio” do cinema, embora devidamente lembrado em outras categorias.
A incompreensão enxerga o novo longa de Bennett
Miller, conhecido por “Capote” e “O Homem que Mudou o Jogo”, como um drama
seriamente intenso e verdadeiramente compromissado com seu enredo. A visão é
plausível, mas ao invés de chegar a isso pelo caminho da perfeição, Miller se
arrisca pela angústia do ritmo que lhe emprega.
Por mais que não se tenha conhecimento
do teor trágico da história, a suspeita nos segue desde o início. Miller
apresenta um enredo evidente: John du Pont (Steve Carell), milionário
norte-americano, convoca o atleta Mark Schultz (Channing Tatum) para treiná-lo
para grandes eventos da modalidade. Por mais que se apresente sutil, algo nos
indica os rumos que a trama leva: o clima angustiante de sua evolução narrativa,
a trilha baixa e a atuação sombria de seus protagonistas.
Embora alvo de elogios, a maquiagem
sobre os atores alcança um nível que beira o exagero; fica entre o incrível e o
burlesco. À início, não compreendi perfeitamente se a fala lenta de Steve Carell tratava-se de uma entrega
ao personagem ou se tinha os movimentos retardados pelo peso de próteses em seu
rosto. O saldo final é positivo; Carell deixa claro a ambição de seu desafio ao
desempenhá-lo muito bem, por mais que claramente lesionado por sua adaptação. Mark Ruffalo é outra vítima das
próteses; em seu caso, ao menos, não há desfalque (lembro das reclamações com a maquiagem pesada de “Cloud Atlas”, dos
irmãos Wachowski). Channing Tatum,
embora o silêncio das premiações, é o verdadeiro astro de “Foxcatcher”, por
mais que a transformação de Carell assuste. Ao dividir espaço com grandes
nomes, sua atuação é a única capaz de acompanhar as transições e evoluções da
trama, mesmo não sendo, segundo a atenção de Miller, o principal da história.
Carell emprega angústia e Rufallo, sutileza, enquanto Tatum faz questão de
deixar claro o que está acontecendo.
O longa de Bennett Miller caminha
lento pela construção e rápido pelo conflito. Não se mostra preocupado em nos
levar junto à evolução dos acontecimentos; não sustenta-se ao drama, à tensão ou
ao suspense. Ainda que apresente um enredo satisfatório, caminha por ele de
maneira morna e não faz questão de nos traçar um objetivo à construção geral que
insinua, sequer à cenas menos ambiciosas. Foxcatcher, embora suficientemente
compromissado a si mesmo, não envolve; sequer choca, como o título brasileiro
declara que tenha feito ao mundo.
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